O uso deinseticidasem casa pode ter um impacto significativo no desenvolvimento de resistência em mosquitos transmissores de doenças e reduzir a eficácia dos inseticidas.
Biólogos de vetores da Escola de Medicina Tropical de Liverpool publicaram um artigo no The Lancet Americas Health com foco nos padrões de uso de inseticidas domésticos em 19 países onde doenças transmitidas por vetores, como malária e dengue, são comuns.
Embora inúmeros estudos tenham demonstrado como as medidas de saúde pública e o uso de pesticidas agrícolas contribuem para o desenvolvimento da resistência a inseticidas, os autores do relatório argumentam que o uso doméstico e seu impacto ainda são pouco compreendidos. Isso é especialmente verdadeiro devido à crescente resistência de doenças transmitidas por vetores em todo o mundo e à ameaça que elas representam à saúde humana.
Um artigo liderado pelo Dr. Fabricio Martins analisa o impacto dos inseticidas domésticos no desenvolvimento de resistência em mosquitos Aedes aegypti, usando o Brasil como exemplo. Eles descobriram que a frequência de mutações KDR, que fazem com que os mosquitos Aedes aegypti se tornem resistentes a inseticidas piretroides (comumente usados em produtos domésticos e na saúde pública), quase dobrou nos seis anos seguintes à introdução dos inseticidas domésticos no mercado brasileiro pelo vírus Zika. Estudos de laboratório mostraram que quase 100% dos mosquitos que sobreviveram à exposição a inseticidas domésticos apresentavam múltiplas mutações KDR, enquanto aqueles que morreram não apresentavam.
O estudo também descobriu que o uso de inseticidas domésticos é generalizado, com cerca de 60% dos moradores em 19 áreas endêmicas usando regularmente inseticidas domésticos para proteção pessoal.
Eles argumentam que esse uso mal documentado e não regulamentado pode reduzir a eficácia desses produtos e também impactar medidas importantes de saúde pública, como o uso de mosquiteiros tratados com inseticida e a pulverização residual interna de inseticidas.
Mais pesquisas são necessárias para examinar os efeitos diretos e indiretos dos inseticidas domésticos, seus riscos e benefícios para a saúde humana e as implicações para os programas de controle de vetores.
Os autores do relatório sugerem que os formuladores de políticas desenvolvam orientações adicionais sobre o gerenciamento de pesticidas domésticos para garantir que esses produtos sejam usados de forma eficaz e segura.
O Dr. Martins, pesquisador em biologia de vetores, disse: “Este projeto surgiu de dados de campo que coletei enquanto trabalhava em estreita colaboração com comunidades no Brasil para descobrir por que os mosquitos Aedes estavam desenvolvendo resistência, mesmo em áreas onde os programas de saúde pública haviam parado de usar piretróides.
“Nossa equipe está expandindo a análise para quatro estados no noroeste do Brasil para entender melhor como o uso de inseticidas domésticos direciona a seleção de mecanismos genéticos associados à resistência a piretróides.
“Pesquisas futuras sobre resistência cruzada entre inseticidas domésticos e produtos de saúde pública serão essenciais para a tomada de decisões baseadas em evidências e o desenvolvimento de diretrizes para programas eficazes de controle de vetores.”
Horário de publicação: 07/05/2025